segunda-feira, junho 17, 2013

Crônica de uma aspirante a bailarina.

Resolvi contar um pouquinho como comecei a dançar porque tem inúmeros motivos que levam uma mulher pra uma sala de aula. Desses muitos motivos alguns deles são justamente aqueles que criam a desistência. Muita gente vai atrás daquilo que aparece na tv, que divulga como algo fácil e simples afinal as atrizes em suas falas dizem que nunca dançaram na vida depois de uma cena de dança com muito efeito com ajuda de luz, câmeras bem posicionadas e claro algumas fazem aulas antes de entrar em cena. O que faz cair por terra totalmente a fala da personagem nunca dancei na vida.
Existem sim talentos em termos de dança mas praticamente todos levaram tempo pra aperfeiçoamento. E se tornaram grandes talentos porque se permitiram aperfeiçoar.
Daí a moça vai pra aula e primeira aula sempre é ruim.Palavra de quem já passou pela primeira aula. Coordenar o corpo pra obedecer é algo que exige muito de você.Concentração, repetição enfim treino. Então a expectativa cai por terra e muitas vezes a menina desaparece da sala.
Não foi o meu caso. Fui pra sala de aula porque um dia sentei num consultório e a médica disse que eu precisava de atividade física. Por coincidência nessa mesma época retomei contato com minha atual professora que faz aulas há muitos anos e que por nunca ter ido dançar chegou a duvidar que eu iria.
Mas eu fui e não saí mais. Porque me encontrei na sala de aula. Eu sou a pessoa mais desorganizada que eu conheço , na escola onde faço aula uma das professoras teve o cuidado de ter uma cestinha só com minhas coisas porque eu esqueço tudo mesmo. Então na dança eu consegui me focar melhor criar alguma disciplina e o principalmente compromisso.
Dançar pra mim é se compromissar. Muitas vezes cheguei antes do horário por medo de me atrasar. Me comprometo com pelo menos me alongar durante a semana pra não chegar na aula com o corpo "duro" mesmo. Fora que com o tempo você vai descobrindo seus pontos fracos. É o braço que não fica do jeito que deveria, é o corpo que precisa de uma insistência pra fazer um movimento porque senão não acontece. Se não acontece compromisso dificilmente você vai pra frente. Você dança mas estaciona. Se torna repetitiva em termos de movimentações e a dança não fica tão boa.
É comum usarem o termo "caro" pra tudo que envolve dança. Recentemente fiz um workshop maravilhoso que mudou completamente alguns aspectos tanto como aluna como ser humano. Tive que pedir ajuda pra pagar porque não tinha como pagar integralmente. Mas valeu cada centavo. Não foi caro porque me permitiu viver algo que eu não vou viver do mesmo jeito mesmo que faça outro com o mesmo tema. Pra um coração que conta moedas, pra um corpo que vive de economias, pra uma pessoa que se nega pro mundo e que se orgulha disso realmente dança é algo terrivelmente caro. Porque ela também exige esse desprendimento. Uma alma mesquinha é incapaz de evoluir na dança porque vai contar moeda na hora de escolher a professora, o figurino não vai querer comprar cd ou material pra adentrar um pouco dentro da cultura porque dança árabe não funciona isolada da cultura árabe. E nessa contagem de moeda deixa de se dar o melhor. Não falo de se endividar, comprar figurinos caríssimos falo de saber da importância de uma aula regular com uma boa professora e que roupa pra dançar é investimento. Em você mesmo porque o figurino ajuda a montar a figura da bailarina.
Retorno financeiro geralmente são pras profissionais não é o meu caso mas eu tive inúmeros outros retornos que não da pra por na ponta do lápis. Talvez um dia eu dance com essa finalidade mas boa parte das bailarinas sobrevivem nesse país que não valoriza a cultura como deveria dando aulas. Por isso dificilmente permito que alguém me chame de bailarina exceto se for alguém que eu ame muito como uma forma carinhosa de se referir a mim, porque em termos técnicos eu não me considero uma. Eu tenho me redescobrido dentro da sala de aula e isso é muito importante  pra mim. E se um dia não puder estar dentro dela a dança me ajudará a me redescobrir fora, pois quem aprende a dançar não perde a dança. É um bem inalienável, algo que não se tira. É algo muito meu e que espero ter comigo pra vida inteira.

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