domingo, março 29, 2009

abraços.

E então eu te abracei...não como quem abraça um corpo, um ser, um igual, mas como quem abraça um ideal para vida inteira, um sonho nunca revelado, uma fé inquestionável.

E então o mundo e todas as suas pequenas e grandes complexidades passaram a fazer um sentido absurdo para mim.

E então toda a loucura da vida me pareceu tão lúcida

E então todos os milagres me pareceram tão realizavéis

E então todas as ilusões me pareceram tão....reais.

sábado, março 28, 2009

brilhavam

e por condição de brilho era impossível de não serem notados

ofuscava todo o resto que podia ser interessante..

guiava como uma luz mas ali não havia túnel

não estava escuro

ainda assim tudo começava e terminava

naquilo que ofuscava todo o resto

por condição de existência

perturbava só por estar presente..

chamava....cegava.....um tom só...mas não refletia...

 

 

era incandescente..pela própria combustão e pela própria morte do eu

gerava sua luz..

não era de várias cores

nem um objeto prismático...

mas queimava...brilhava...seduzia.....

 

 

 

(se consumia e ao mesmo tempo renascia)

 

 

 

 

 

e que tal você brilhar na minha noite?

e que tal você brilhar no meu céu?

e que tal todas as estrelas voltarem para onde vieram?

migrações

Com tempos separados em começo meio e fim apanhou o que lhe servia de útil e foi embora.Quebrou relógios machucou os punhos enfim.Cresceu.E disse tchau porque adeus era sempre uma palavra que nunca se cumpria.


Como um ateu sem oração...


Como um braço sem mão
Como pés sem chão
Como um cristão



sem irmãos




Como uma pedra sem sapato
Como lagoa sem patos
Como cama sem estrado
Como o fato sem acaso



 caso sem fato


Como as pessoas procurando ruas
Como teus procurando suas




Como luas...como cruas.....

quinta-feira, março 26, 2009

prelúdio do encontro.

encontrar-te
foi como um pequeno espetáculo de flores cerejeiras
invadindo mais uma primavera japonesa 
muito lindo, aos olhos de quem vê 
E tão natural aos olhos da própria flor que só cumpriu o seu papel.
(naturalissímo portanto diante da minha visão.Era esperado que te pertencesse)
Quero me mudar temporariamente para dentro do teu corpo.
E eternamente para dentro da tua alma.
São sonhos embalados por músicas ainda não feitas ou tocadas.
São as harpas dos anjos regidas por um único maestro.
Um único senhor de todos os céus que imaginei
E o espetáculo é precioso justamente por não ter platéia
Nem um único aplauso

quarta-feira, março 25, 2009

Destino.

Caminhar numa imensa multidão de rostos, sem identificação.
Voltar para casa no fim do dia com a sensação de que não se viveu mais tantas vinte e quatro horas como deveria ou como gostaria ou que simplesmente não se viveu mesmo apenas deixou escorrer pelos dedos cada minuto, como pequenos pedaços de areia de um relógio de vidro que ninguém mais usa pois não é pequeno o suficiente moderno, o suficiente.Deixando as coisas escoar.Água dos banhos, lágrimas dos dias tristes,pó de asfalto do caminho a tantos lugares, as obrigações, o vento, os pensamentos que surgem e somem na mesma velocidade da utilidade que eles tem (ou que julgamos que eles devam ter.)
Tudo se esvaindo em pedaços de horas, minutos e segundos.E parece por vezes tão desnecessárias tantas horas que se você pudesse trocar algumas horas por alguns segundos vividos de outro modo menos previsível e medíocre do que acordar e fazer aquilo que ter que ser feito, você o faria sem achar que está deixando de viver algo.Se sentiria muito mais humano muito mais perto de si mesmo.As horas te pertencem mas você não dá a quem gostaria de dar a preciosa atenção, a doce magia particular de gestos únicos que só quem te reconhece sabe o que significa, sua quota diária de minutos ficam por conta de ter que encarar multidões com rostos incógnitos e sem sentido. As horas te pertencem mas você não pode usar como gostaria.O tempo só serve para nunca termos tempo para nada.

Ao menos não para o que realmente queremos.

É tudo extremamente inútil.
Relógio é invenção de quem não sabia o tanto que um peso de um ponteiro pode doer.O tanto que pode se arrastar aos nossos olhos o tempo marcado pela espera.Aquela forma que aponta para o céu marcando segundos mais parece uma guilhotina.Prestes a nos matar de tédio, frustração ou mesmo velhice.

segunda-feira, março 23, 2009

E então ela sorriu.

Ao contrário do que era esperado ela sorriu.A mãe havia partido para um lugar do qual não voltaria, boas parte das suas tentativas tinham fracassado por completo e dezenas de coisas não estavam no lugar que deveriam estar.

Não tinha o trabalho que a remunerasse bem e a reconhecesse pelo seu esforço (como tantos), não tinha o cabelo que gostaria de ter (como tantos), não tinha o corpo perfeito (como tantos), e vivia desistindo temporariamente daquilo que acreditava por mero cansaço (como tantos).

Mas sorriu.Porque via prazer na vida, na luta diária e em ser contraditória

Ser o que todos esperam era triste demais.Ser como tantos era tedioso demais, o bastante para não querer ser generalizada em mais nada.E portanto sorriu.E muito.

quarta-feira, março 18, 2009

O bom (ou apenas a afável arte de julgar)


Carissímo.




Com o orvalho da madrugada sobre as folhas marrons e verdes ao chão pude me lembrar com exatidão do teu rosto.Talvez a minha vida seja sempre uma eterna tentativa de metaforziar tudo.Mas sem dúvida nessa imagem que te descrevo floresce você.A água que pousa na folha ao cair da noite e só ainda está pela manhã porque não pode secar.O desmazelo e a bagunça desordenada com a qual as folhas se posicionam ao chão e nos galhos.A sensação de frio que o orvalho passa e aqueles pequenos pedaços verdes chorando lágrimas que antes não lhe perteciam.Esse retrato não é humano.Esse retrato é todo teu.
Assim deveríamos ser,como árvores que deixam suas folhas plumando pelo vento e que não tenta se enquadrar em nada.Apenas seguem o seu curso.Não tenta se encaixar no que é bom e somente da folhas e frutos seguindo sua natureza.Árvores diferentes dão frutos diferentes concordas?Parece-me óbvio.Somos árvores.Diferentes.Não entendo então a tentativa de outras árvores dizerem como devemos conceber os nossos frutos.Esta é a afável arte de julgar.Uma violação portanto, afinal crês que uma cerejeira um dia se sinta obrigada a gerar morangos?
Minha árvore de sandâlo ainda que finquem machados em ti exalas um perfume tão suave.Compreender porque orvalhas tanto e com tanta dor e também porque cismas em deixar cair tuas folhas em plena primavera é entender um pouco de mim mesma.Pois sou rosa sem espinho e um vaso de planta liberto.Estou fixa mas plumejo folhas por aí.Voam longe.Até tocar teus ombros.

terça-feira, março 10, 2009

Desquereres.

Hei de arder sozinha,como brasa remanescente de uma fogueira festiva jogada a um canto de areia, com restos de cinza e um que inéxplicável de maresia e solidão.Que fiquem com suas doutrinas nobrezas gentilezas risos alcóolicos forjados e seus sentimentos nobres de almas limpas e corretas.Eu quero a sujeira o ópio, a larica do drogado a sífilis da prostituta falida.O resto que ninguém quer e que eu valorizo.A sucata desgastada e esquecida daquilo que um dia foi útil e bom.As flores.Que sejam murchas.Ainda são flores ainda que sem água e sem cor sem vida.Quero a nobreza de quem come lixo e ainda diz.obrigada.Sou inútil aos olhos do mundo, e uma deusa aos olhos do meu próprio destino que depende das minhas escolhas.Não quero a rosa.Quero a urtiga.Que me faz reagir ficar vermelha me incomodar.Não quero odores agradáveisnão são eles que nos fazem banharmo-nos de água e nos renovar.Eu nado no lodo procurando a lótus.Eu me jogo no poço procurando a água.Eu me enveno de sonhos procurando a calma.

terça-feira, março 03, 2009

Insetos.

Formigas são conhecidas por serem extremamente esforçadas,trabalhadoras e pragmáticas.Enfim.São insetos não sei porque exatamente um ser humano seguiria este padrão de organização social.Basta pensar que as formigas usam umas as outras de ponte para chegar ao tão sonhado açúcar.E geralmente essas que são usadas como ponte já estão mortas afogadas naqueles mimosos pires com água que as vezes colocamos para impedir justamente isso.
Não só parece.É meio estranho pensar num ser humano fazendo cadáveres de ponte para conseguir comida.Em meios primitivos talvez essa sensação diminuísse, mas em condições de paz social biológica e derivados é óbvio que esse tipo de coisa é abominável embora estejamos sempre sendo insetivados a pisar uns nos outros em condições naturais, onde você não precisa submergir ninguém para emergir.E ainda assim o fazemos.
Não sou nada pragmática.Ponto.