sexta-feira, dezembro 12, 2014

Sobre o que ficou/restou de mim

Eu nunca fui virtuosa.Magra.Organizada.Forte ou corajosa. Enfim nunca tive virtudes socialmente bem vistas pras pessoas porque o que você é se não consegue socializar,emagrecer e vencer na vida , trabalhar mil horas por dia mesmo que seu trabalho te acompanhe aonde você vá você não durma pensando nele e em como fazer pra se ajustar?
Mas na tua casa eu fui eu. Como eu nunca fui em lugar nenhum. Eu podia não ser magra, podia não ter a melhor vida financeira, podia ser um desastre e quebrar todos os teu bibelôs mas não importava. Você deixava eu ser eu. Podia dormir na tua cama do teu lado na real paz que eu perdi e nunca mais tive depois que você se foi e ninguém me chamaria de preguiçosa (quando fui na tua casa novamente esse ano dormi na tua cama e quase fui gente de novo), podia pagar pra trabalhar e precisar de você e você me daria além do que precisava, podia estar falida, cansada e irremediavelmente cansada da vida mas eu podia ser eu.
E quando eu te perdi eu perdi justamente isso.O direito de ser eu. Meu lar boa parte dele, se foi com você. Eu teria ficado agarrada onde eu tive que me despedir mas você não gostaria disso e gostaria que eu seguisse mas o meu lar....você era meu lar.  E eu daria tudo pra pular tua janela pra não te incomodar pra abrir a porta e ainda assim você acordar só ao sentir minha presença na casa. Quero meu lar. Minha pátria, meu tabernáculo. Você

domingo, setembro 21, 2014

Carolina: com doze anos

Comecei a escrever com doze anos lendo gonçalves dias e realmente essa não é uma biografia típica de uma criança de doze anos. Não faço ideia como se deu mas foi assim. O livro era velho não tinha figuras não tinha nada que pudesse atrair uma criança de doze anos. A capa tinha sido refeita o livro recolado tantas vezes e eu adorava e hoje entendo que o amava justamente por ele resistir ao tempo, e as circunstâncias como nós mortais deveríamos fazer. Decorei o meu primeiro poema com essa mesma idade,chamado como eu te amo, do mesmo livro. Quase todo. E ele é comprido se alguém tiver a curiosidade de ver. Não que eu me gabe olha quem lê isso aqui não faz ideia do tanto que eu quis ser como todas as meninas da minha turma, usar gloss, falar de garotos mas eu achava isso uma chatice sem fim porque meu livro enfiava dentro da bolsa e sempre estaria ali comigo.
Um garoto nessa idade( ele nem deve lembrar) disse que uma menina era muito mais bonita que eu. E eu, com doze anos disse: legal pena que isso não faz diferença alguma na minha vida.
Doze anos! Eu deveria ir pro banheiro chorar mas não aconteceu. E de verdade eu estava certa não fez nenhuma aliás quantas pessoas você é obrigado a conviver fazem? Só não faço ideia de como eu sabia a essa altura do campeonato.

Quando chegou meu aniversário pensei: to ficando velha (??????????????) comia um chocolate encostada num quadro e um professor riu acho que eu falei baixo mas não o suficiente pra ele não ouvir ou se ele ria do meu mau humor crônico que eu sempre tinha ( olha o tempo) da minha cara de brava e dos meus cabelos trançados indo contra o surgimento da chapinha. 

Ah e eu me apaixonei. Mas nem era paixão. Eu acho. No mesmo ano o tal escolhido tentou chegar perto de mim por a mão na minha perna e eu passei uma grafite no braço dele.

E é isso. Acho que sou filhote de onça e não tô sabendo. 

Continua e chega aos treze.

sexta-feira, setembro 19, 2014

e tem anos que

E tem dias que eu não confio em mim não por falta de valentia mas por exaustão dela. Ela se esgota por todos esses dias que o vento só traz poeira pros olhos e a chuva massacra o corpo que se arrasta lá e cá hora pro trabalho, hora de volta pra ele mas porque tanta chuva sobre ombros já tão caídos.
Enxurradeada eu sou, o canal lacrimal não seca, cadê a minha noite de sono e vou ficando deformada, a menina que sonhava em ser bailarina morre dentro de mim em posição fetal diante de tanta falta de leveza, em carne viva completamente exposta, minha oração é forte mas cadê o amanhã aquele que me prometem há anos em que não vai doer mais tanto? 
Explodida estuporada, pra onde eu posso ir? quem vai me acolher. desanda eu tropeço me espalho em cansaço pela cama e porque não chega a leveza se o coração tem a bravura de lutar por ela?
Penso em ter dobrado na curva errada ter me perdido no meio do caminho mas onde acho como voltar os corvos comeram minha trilha de migalhas de pães. São dias meses anos nessa luta a vida não é conta gotas fico velha e o que fazem da sua vida os anciões sem sabedoria a jovem sem a virtude do novo que sempre se renova e a criança que sonhou um dia em ser..somente ser.

terça-feira, agosto 19, 2014

eu


Eu que sou orgânica, que me decomponho ao menor vento. Que não rolo feito pedra, que não sei ir ao curso do tempo. Eu que não sou mais o verbo ser que não estou mais sendo semente ou promessa. Que tenho  olhos e o coração e os arrasto pelas ruas a cada passo porque pesam demais para meu corpo frágil e em desordem. Eu que não me componho mais nem em verso nem em prosa. Eu que não toco chão, amasso com o pé e não produzo pegada pois não tenho mais o peso do significado de ser humana. Eu que não sou sentida, não tenho sentidos não cheiro, não tateio e não correspondo nem por telefone ou correio.
Eu que falo do que sou mas já não existo. E que existo sem saber o que sou.

sábado, agosto 02, 2014

Catarina


Catarina andava por aí vestida de sol pois mesmo na sua inocência de se achar apenas mais uma a percorrer  a estrada, sabia que conduzia o mundo em suas mãos.
E isto não era por beleza  e nem por dom, é que nela existia a magia oculta daquela fruta-flor recém colhida do pé que há dois dias não passava de um aglomerado de pétalas de um rosa pálido quase branco, mas que agora se apresentava vermelha, rubra e fresca com todos os cheiros solares que sua árvore mãe recebeu para concebê-la.
Transmutada pela força da natureza fazia-se assim, poente em mim, menino e imaturo com o pomo cheio de sabor nas mãos, descobrindo em cada pedaço sorvido entre os lábios o milagre que se revela numa flor que se fez fruta, apenas para saber que a evolução é essa semente ininterrupta de transformar-se de uma promessa para uma realidade cheia de sentidos. Semeávamos mesmo sem saber, um novo mundo em nós a cada arrepio-flor e cada fruta-beijo que colhíamos um no outro e acordávamos sabendo que o amor nada mais é que essa seara que reluz a ouro quando a luz da estrela maior toca os trigos, a matéria- prima do pão que servirá de alimento para todas as gerações, incluindo a minha, meu próprio legado mesmo que ainda não concebido estava naquela visão, naquele pão ainda não produzido, que dependia apenas das mãos de minha fruta-flor para ser moldado e chegar-me aos lábios nutrindo toda minha fé na vida.

segunda-feira, julho 07, 2014

A casa.

Porque às vezes não consigo. Ouço não para aprender  a dizer sim.
Arrasto. A vida a circunstâncias, o tênis na brita e meu coração pelas ruas.
E nem sempre dá para esconder. Abafo o terreno em obras.
Mas as batidas do martelo acordam toda vizinhança e eu procuro vigas em que me sustentar
Tremo por não ser concreto.
Quero a paciência do artesão e não a eficácia do mestre de obras
Esculpir-me. Desculpar-me. Perdoar-me.
Sempre é a parte que tem mais entulho pra por no caminhão da mudança interna.
Falta acabamento. Falta acabar-me
Falta cor na vida e nos olhos. Faltam presenças pigmentadas
A alegria só vem depois de profunda terras levantadas com pás de caminhão
Pra tirar minha alma lá debaixo, que ficou afundada na reviravolta em que me enfiei
Escavo. Várias horas todos os dias. Até respirar.
 E tentar drenar com canos pros olhos a mágoa
E aos poucos deixar de ser a casa em eterna ruína.

segunda-feira, junho 16, 2014

razão das razões 2

Deus não te fez mais bonito porque as estrelas padeceriam de ciúmes. E os mortais estariam todos condenados a não ter mais pontos de luz para enumerar todas as suas ilusões.

domingo, maio 25, 2014

poema de salvação



























A noite você me visitou

Sonhei
Tua vontade agarrava meus cabelos como você agarrou a vida em vários momentos de precipício
Salvação
Você me convocou para que te desse braços fossem capazes de te sustentar mãos que lapidassem e ombros que te acolhessem
Como oração
Seus olhos de vela aqueciam, iluminavam e queimavam todas as coisas as que alcançavam e as que queriam alcançar.
Chamas como um chamado
A transformação foi além do que pode ser queimado. O toque de luz transforma mais que a agressividade do fogo
Vem
Fui. Não se deve ignorar convocações daquilo que não se coloca barreiras para ser freado. Nem em sonho eu sonharia dizer não para ser o lume do teu mundo.

sábado, maio 24, 2014

diretamente

Dificilmente falo de mim diretamente. Desde que aprendi o exercício da metáfora sempre optei por escrever com sutilezas. Que talvez só eu entenderia.
Mas hoje venho de modo muito humano dizer que acordei mal. Quebrei uma xícara e em vez de começar o dia tomando café fui limpar o quarto. E tudo me doía. Stress talvez. O magistério me devolveu minha gastrite também. Tomei um dorflex ineficaz e fui pra aula de piano tentando ter a postura correta com tudo doendo até o juízo. Voltei pra casa e como meu corpo parecia pesar o mundo inteiro.
Procurei atenções afeto carinho. E foi tudo muito vazio. Saí na garoa e no frio pra comprar medicações. Voltei. Meus olhos doem e minhas dores estão tais e quais como quando eu acordei. Polainas cobertas e solidão. E por fim mão que eu precisava desde cedo pra fazer o que eu precisava e fiz hoje foi a que está no fim do meu punho.

sexta-feira, maio 09, 2014

Retorno

Tenho um choro preso.

É pra ontem e não pra hoje

Garganta e coração.

Perco a voz.

É daqui que sai e é para cá de volta

Aonde foi que eu devia ter chegado se até hoje sequer achei o caminho do retorno?

Perdida

Caça na mata

Corça ferida

Escura. Noite alta e luas escondidas

É de momento que é feito e não de palavras
É da ânsia que te faz estremecer no agora
É da precisão necessária que não acontece
É no desconserto da atitude...


Que enlouquece.


Eu tremo mais de medo que frio. Eu rezo mais de desespero do que de fé. Vacilo. O abismo é logo ali. Eu caio. Não volto. Mas aonde foi que eu devia ter chegado se até hoje sequer achei o caminho do retorno?

quinta-feira, maio 08, 2014

razão das razões.

Amor.

Verbo dias horas minutos. Substantivo insubstituível.Acontece , faz acontecer. Cria vinco na cama vínculo na alma. Cresce..derruba parede faz puxadinhos de afeto por todo o corpo. Sobe...te faz criar impulso pro novo. E mais que criar faz renascer o que estava perdido.
Vem e faz ninho quente preparando o corpo pra toda vida nova que vem ali. E claro que o vem é primeiro penugem, fragilidade e dependência. E depois é tudo um imenso voo num céu compartilhado.

sexta-feira, março 21, 2014

Egoísmo, flores e cartas.

Olha eu sou meio maluca mesmo. Mas minha impulsividade é de delicadeza e minha loucura é doce. Porque eu resolvo ficar meia hora numa fila de correio muito doente pra mandar uma carta com um texto do Nassar sobre tempo e eu só ia pegar uma receita indispensável pra minha sobrevivência.
Mas fiz um cartão. Escrevi com o punho. Tossi o caminho inteiro mas mandei.
Essa violenta delicadeza me pega também quando vejo flores. Não tenho pra quem dar, não tenho dinheiro, não tenho motivos. Não é aniversário, ninguém passou no vestibular e nada de novo aconteceu.
Mas eu vou lá e compro. Meu salário milionário de professora contratada por um ano foi acometido por orquídeas, tulipas e um arranjo com rosas e margaridas pra minha mãe algumas vezes.
Mas é que não vejo sentido em esperar. A vida não espera eu também não quero esperar. Quero dar flores pra quem ainda tenha olfato pra sentir o cheiro, cartas que podem transformar o dia da pessoa e enfim. Eu quero me transformar também. Sou egoísta o suficiente pra querer ser lembrada com carinho o tempo todo.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

talvez

Talvez eu não tivesse o direito de ter começado esse texto.
Tenho vivido coisas maravilhosas, ganhado presentes, dividido cama e sendo amada.
Tenho o amor de um cão maravilhoso fiel e companheiro. Amor de parte da minha família.
E amor de um homem que deve ter roubado a essência de dez pessoas diferentes pra fazer alguém tão enorme de ser gente.
Mas acontece que estou cansada.
Sem meios numa casa que não é como a minha. Com valores diferentes. Com coisas que não fazem parte de mim.
Eu sou ingênua e inocente o suficiente pra fazer as coisas como o menina de catorze anos faz sem nem perceber e sabe eu queria ser enxergada assim por dois minutos porque quem me viu sendo criada sabe que sou desligada, que choro por bobagem que cometo erros que sou impulsiva. A gente fica se sentindo o pior ser humano do mundo quando é chamado a atenção a cada dois minutos por isso. Acontece em todo lugar e eu fico paranoica procurando se deixei algo pelo caminho.
Me policiando pra não ser a menina chata e mimada quando na verdade eu só estou podre de carente querendo chorar por alguns meses seguidos em posição fetal até começar a entrar algum dinheiro na minha conta que venha do meu trabalho, pra ser menos impotente e vazia que agora.
Sabe eu fui invadida de todos os jeitos , canos , tubos e eletrodos. Me lembro de chorar depois da laringoscopia porque passei sede e fome. E porque senti dor de estar perdida na maior metrópole da américa latina.
A verdade é que mais que estar perdida doeu mais o exame que só tinha gente de branco e nenhuma era alguém que me amasse.

Talvez eu seja só muito imbecil. Eu digo que quero emagrecer mas na verdade eu quero é sumir.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

duas semanas

O dias foram duros de testes e sobrevivências.
Descobri que amor é verbo presente. Que se alimenta dum futuro próximo. Contando os dias pra um passado que não passa nunca.

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Descobrir-se

Nossos olhos nem sempre estão voltados para aquilo que realmente pensamos ser prioritário ou importante para nós.
Às vezes nos demoramos demais naquilo que está a vista, e o que é realmente precioso está longe da nossa visão. Escondido. Como um botão de rosa, uma dama da noite esperando o luar invadir sua textura para que ela se sinta realmente em casa para perfumar tudo que a rodeia de modo arrebatador.
E foi assim que aconteceu. Enquanto eu me preocupava em aprender a nadar uma pequena ostra me ensinou a beleza do detalhe. Eu afundei sem medo de me afogar, pus ela em minha mãos, a abri e encontrei a real beleza da vida. A pérola escolhida para estar sempre comigo. Meu talismã protetor que sempre está como um colar envolto ao meu corpo e eu o sinto perto tão perto que não vejo mais problemas e ser arrastada de novo a praia.
Desde que o meu maior prêmio esteja lá comigo.
A beleza pode estar no caminho, e eu que queria só chegar lá e simplesmente chegar nem sempre consigo desfrutar o momento do agora. Porque a vida não é só a chegada. É o ponto de partida, o meio do caminho e o fim.
Pra começar tudo de novo. E o que permanece é justamente aquilo que vem pra brilhar no nosso coração enquanto estamos distraídos dentro de nós.
É o que nos traz pra fora. E faz a gente sentir uma saudade tão grande que dói quando vai embora, dói porque não é sempre que se encontra algo do que se orgulhar e meu maior orgulho é ter sido encontrada. Eu me perdi mas não por muito tempo porque alguém me achou. É como se eu não tivesse que caminhar até a terra prometida mas ela que viesse até mim pra que eu orasse e me sentisse grata, amada e sagrada tanto quanto ela é.
E o que eu estou descobrindo é redescobrindo a ser o que sou. Sem pressa. Desde que eu possa te ver caminhar bem de pertinho e beijar as mãos do destino por ter me colocado aqui e agora. Diante de você.