segunda-feira, novembro 28, 2011

O medo

Eu estava bem até o medo sentar a mesa e pedir para passar o sal.Falar de como fazia tempo que não vinha  e que realmente não precisava voltar tão cedo, a cama dele ainda estava feita o travesseiro com seu cheiro e o seu perfume passeava por toda a casa como uma cantiga ninar que acaba envolvendo todas as outras emoções.Ele garfava precisamente as minhas expectativas, minha juventude falava do sabor fresco dos meus sonhos enquanto  bebia o resto de ânimo que me restava em um copo.
Ao fim levantou-se da mesa, lavou as mãos na pia do banheiro, usou minha toalha e fitou meus olhos inchados e disse que eu era muito prestativa em convidá-lo sempre para vir ao meu encontro e que gostaria de ao menos conseguir sentir saudades de mim já que eu vivia agarrada aos seus pés.Reclamou da sua presença sempre solicitada mas que estaria ali sempre que eu pensasse em recuar.Foi embora, deixou um cartão com um telefone e me desejou melhoras.

quinta-feira, novembro 24, 2011

o mal do silêncio

É extremamente difícil levar nas costas o legado de suposto gênero relacionado a coisas emocionais.Eu até sou.Mas eu não me meto em grandes brigas, não vou bater na porta de madrugada para simplesmente falar coisas que poderiam fazer com que eu me sentisse melhor.Eu simplesmente silencio.


E isso corrói.Destrói paredes, derruba certezas e abala.Abala porque silêncio é indiferença e eu não quero mesmo parecer outra coisa que não seja isso.Deixa que eu sei o compasso do meu samba e o tamanho da minha dor.Não ponho aos pés de ninguém que eu acho que não merece nem o melhor e nem o pior de mim.Eu calo.A palavra não tem volta.Melhor deixar certas coisas morrerem de ausência do que sufocadas em palavras a serem digeridas.Eu não crio calos na garganta mas crio no coração.Deixa que eu sei qual é o tamanho do peso do meu silêncio.

quarta-feira, novembro 23, 2011

sobre ir embora

Palavras tem o poder de me quebrar os ossos.Especialmente se toca em algo que pedia por favor me deixe aqui eu PRECISO descansar.


Pois bem


Me lembro desse texto como se fosse hoje.eu tinha chegado muito atrasada pra uma prova.eu comecei a ler e me faltou um pouco o ar.chorei.só tive sensação semelhante aos dezesseis anos ao ler um texto do livro são bernardo de Graciliano Ramos.Chorei doído mesmo como se fosse eu que estivesse ali completamente desamparada, escrevendo o texto que eu na verdade lia.Não era meu mas senti como se fosse.
É um texto sobre despedidas
Eu chorei porque nunca aprendi direito como se vai embora, como se vira as costas como simplesmente...esquecer.
Eu nunca esqueço.Convivo.Mas sempre fico com aquilo de não saber o que fazer com as lembranças e volta e meia pensar que queria dividir algo com a pessoa.
Eu sofro de uma despedida que nunca se completa.Não em mim.Ainda que sem querer eu fico esperando que o tempo resolva tudo.Na maioria das vezes não resolve.Sou um punhado de sentimentos inacabados.Eu sempre deixo a janela aberta esperando que o vento venha mesmo que só tenha mormaço lá fora.


O texto é esse




A Viajante
Rubem Braga

Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá.

Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique.

Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou.

Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras e problemas e inquietações que pareciam eternos e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que o das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua.

Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde - torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel.

Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.
Rio, abril de 1952.

terça-feira, novembro 22, 2011

Nova era

Tua palavra continua me erguendo bailarina

Sinto um sopro no coração que o faz falhar


A falha é tua presença que não acontece


É tua mão que não está minha

Meus olhos dizem o que minhas mãos escondem

O gesto em súplica pela tua vinda

O encontro é eminente os cheiros se misturam

Teu toque é o novo.A nova era acontecendo dentro de mim

Eu já consigo sentir a respiração voltar ao compasso correto

Você com maestria me faz escorrer por teus dedos

E eu calmamente danço no teu eu em busca de mim.

domingo, novembro 20, 2011

De mim para o mundo.

Acho que nunca vim aqui para dizer estou bem.A dor costuma ser mais bonita de ser lida, porque parece que abrimos um corte no corpo só pra escrever com mais intensidade ou com mais da gente no texto.Eu dificilmente estou bem.Eu já fui feita de idiota eu já briguei com todo mundo eu já gostei do cara que eu realmente só gostei porque não queria ficar sozinha e quem sabe uma boa cama e um eu te amo que eu sempre duvidaria porque milhões de atitudes me fizeram duvidar.Sou egoísta e assumo isso.Quero pra mim sempre, devorar com os olhos fazer falhar batidas de corações.Eu assumi pra mim mesma que até o amor que eu sentia e pelo qual eu sofri é porque eu queria desesperadamente um bote salva vidas que me salvasse do meu mar de carências.E que isso não era amor tanto que quando vi que meu bote podia não estar lá um dia eu fui embora.E amar não é salvar vidas o tempo todo.
Não tenho medo de assumir minha idiotice.Já quis morrer sozinha.Hoje espero.Se vier que venha pro bem, eu não vou exigir mais do que um amor saudável pode dar.Mas a realidade é que é mais fácil se esconder atrás do amor quando tudo deu errado.Se agarrar na desilusão é um modo de se esconder dos problemas.Eu queria um corpo de homem pra estar sempre na minha frente e não só por cima de mim numa transa.Eu queria o tempo todo, pra me esconder pra ser menina pra poder dizer o quanto a vida era ingrata comigo só porque eu escolhi o cara errado pra viver uma parte da minha juventude.
Mas aí eu realmente fiquei adulta.Eu entendi minha mãe como mulher.Como é difícil ser adulta pagar contas e assumir responsabilidades.Eu entendi o amor quando levava meu sobrinho no colo ou quando eu ia na casa do meu avô comer bolo ou tomar um café.Eu descobri o amor na roupa lavada em cima da cama, na preocupação, no choro ao telefone nos dias que eu não dormi porque eu queria desesperadamente fazer algo e chorava de impotência.
Minha vida continua complicada eu continuo sozinha.Voltei a escrever.E não estou sofrendo pra isto.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Insanidades.

Faz algum tempo em que eu recebi meu atual diagnóstico.Que eu prefiro não comentar em detalhes, porque sei como o mundo pode ser escroto com quem está fragilizado, unicamente porque é mais fácil ser desse jeito com quem se expõe do que assumir as suas próprias fraquezas.Eu não conheço ninguém que por meio minuto não tenha desejado fortemente desaparecer da face da terra.Meio minuto de não existir, de não ter que se preocupar de não carregar o fardo que é ser humano.Meio minuto sem lembranças do que se perdeu, do que ainda quer conquistar e por algum motivo não consegue etc.
Toda loucura é vinda do homem.Animais não entendem do que é não ter lucidez.E por isso as pessoas reagem tão fortemente quando você assume suas mazelas de ordem psicológica.Estar louco é ser muito humano.Um fio muito fino nos separa do abismo da insanidade, de se tornar incógnito socialmente.Por fim quero dizer que as pessoas rejeitam aquilo que elas podem se tornar por medo muito grande de ter que lidar com aquilo.O outro acaba sendo o retrato daquilo que ela mais teme.E por isso tenho consciência da minha força.
Já faz uns anos que fui a primeira vez num consultório de uma psicanalista.Não foi divertido e ela não era tão boa assim.Enfim achei minha terapeuta atual que é bem melhor.Mas estou sempre tendo que conviver com certas coisas como recaídas e etc.É tudo muito processual,cansativo e requer uma disciplina que eu não tenho.Estou exausta.Resolvi começar a escrever pra exaurir em parte minha exaustão.Nem eu consigo me aturar ás vezes achando tudo muito ruim.Lembrei que a única coisa que eu sei fazer com excelência mesmo não estando bem é escrever e muito.Então me aguardem muito por aqui.