sábado, agosto 02, 2014

Catarina


Catarina andava por aí vestida de sol pois mesmo na sua inocência de se achar apenas mais uma a percorrer  a estrada, sabia que conduzia o mundo em suas mãos.
E isto não era por beleza  e nem por dom, é que nela existia a magia oculta daquela fruta-flor recém colhida do pé que há dois dias não passava de um aglomerado de pétalas de um rosa pálido quase branco, mas que agora se apresentava vermelha, rubra e fresca com todos os cheiros solares que sua árvore mãe recebeu para concebê-la.
Transmutada pela força da natureza fazia-se assim, poente em mim, menino e imaturo com o pomo cheio de sabor nas mãos, descobrindo em cada pedaço sorvido entre os lábios o milagre que se revela numa flor que se fez fruta, apenas para saber que a evolução é essa semente ininterrupta de transformar-se de uma promessa para uma realidade cheia de sentidos. Semeávamos mesmo sem saber, um novo mundo em nós a cada arrepio-flor e cada fruta-beijo que colhíamos um no outro e acordávamos sabendo que o amor nada mais é que essa seara que reluz a ouro quando a luz da estrela maior toca os trigos, a matéria- prima do pão que servirá de alimento para todas as gerações, incluindo a minha, meu próprio legado mesmo que ainda não concebido estava naquela visão, naquele pão ainda não produzido, que dependia apenas das mãos de minha fruta-flor para ser moldado e chegar-me aos lábios nutrindo toda minha fé na vida.

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