terça-feira, agosto 19, 2014
eu
Eu que sou orgânica, que me decomponho ao menor vento. Que não rolo feito pedra, que não sei ir ao curso do tempo. Eu que não sou mais o verbo ser que não estou mais sendo semente ou promessa. Que tenho olhos e o coração e os arrasto pelas ruas a cada passo porque pesam demais para meu corpo frágil e em desordem. Eu que não me componho mais nem em verso nem em prosa. Eu que não toco chão, amasso com o pé e não produzo pegada pois não tenho mais o peso do significado de ser humana. Eu que não sou sentida, não tenho sentidos não cheiro, não tateio e não correspondo nem por telefone ou correio.
Eu que falo do que sou mas já não existo. E que existo sem saber o que sou.
sábado, agosto 02, 2014
Catarina
Catarina andava por aí vestida de sol pois mesmo na sua inocência de se achar apenas mais uma a percorrer a estrada, sabia que conduzia o mundo em suas mãos.
E isto não era por beleza e nem por dom, é que nela existia a magia oculta daquela fruta-flor recém colhida do pé que há dois dias não passava de um aglomerado de pétalas de um rosa pálido quase branco, mas que agora se apresentava vermelha, rubra e fresca com todos os cheiros solares que sua árvore mãe recebeu para concebê-la.
Transmutada pela força da natureza fazia-se assim, poente em mim, menino e imaturo com o pomo cheio de sabor nas mãos, descobrindo em cada pedaço sorvido entre os lábios o milagre que se revela numa flor que se fez fruta, apenas para saber que a evolução é essa semente ininterrupta de transformar-se de uma promessa para uma realidade cheia de sentidos. Semeávamos mesmo sem saber, um novo mundo em nós a cada arrepio-flor e cada fruta-beijo que colhíamos um no outro e acordávamos sabendo que o amor nada mais é que essa seara que reluz a ouro quando a luz da estrela maior toca os trigos, a matéria- prima do pão que servirá de alimento para todas as gerações, incluindo a minha, meu próprio legado mesmo que ainda não concebido estava naquela visão, naquele pão ainda não produzido, que dependia apenas das mãos de minha fruta-flor para ser moldado e chegar-me aos lábios nutrindo toda minha fé na vida.
Assinar:
Postagens (Atom)