quinta-feira, março 31, 2011

doçura



Nasci dura, heróica, solitária e em pé. 
E encontrei meu contraponto na paisagem 
sem pitoresco e sem beleza. 
A feiúra é o meu estandarte de guerra. 
Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
E desafio a morte. 
Eu - eu sou a minha própria morte. 
E ninguém vai mais longe. 
O que há de bárbaro em mim 
procura o bárbaro e cruel fora de mim. 
Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira. 
Sou uma árvore que arde com duro prazer. 
Só uma doçura me possui: 
a conivência com o mundo. 
Eu amo a minha cruz, 
a que doloridamente carrego. 
É o mínimo que posso fazer de minha vida: 
aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.

Clarice Lispector

quarta-feira, março 23, 2011

as horas

As horas tendo sido traidoras.O relógio tem me traído me esmagado trazendo cansaço de dias começado cedo,muito cedo, quando os pássaros nem ousaram ainda rasgar o céu com asas e escândalos necessários pra anunciar um dia novo.As horas tem sido traidoras porque eu tenho me pego contando no relógio cada segundo, torcendo para os dias passarem rápido, esperando nada em específico mas querendo ter nas mãos a vitória de mais um leão morto pelas minhas ações, pela comida que eu como, pelo ônibus no qual me imprenso enfim.Parece inglório mas ter um dia vivido nas mãos pra quem está sempre contando os segundos parece um prêmio de compensação por que não  deixo simplesmente  os ponteiros escorrerem pelo meu corpo e tudo fluir como deve ser.Eu meço conto analiso.Me pergunto porque olhar pro relógio se eu não estou esperando nada novo, se eu já não consigo esperar nada novo.Hora de acordar hora de dormir e tudo parece metrificado como se não houvessem inovações, e por Deus relógios não são entidades religiosas eu preciso procurar um ponto para qual me curvar merecidamente.As horas não podem me devorar feito leão embora eu ache que estou matando ele todos os dias, ele que me engole o tempo engole todos nós e não sei porque racionalizo isto mas dentro de mim juro que estar matando tempo é algo realmente possível.O tempo nos mata e não o contrário.



Cansada demais para materialismo histórico dialético.

segunda-feira, março 21, 2011

foi só depois de por a mão na minha alma é que percebi que havia uma ferida aberta.e que era mortal.

sábado, março 12, 2011

Ser alguém melhor pra mim.talvez seja isso que precise agora.Não sei como vai ser porque estruturas estão se ruindo e lugar de coração não é no meio da estrada pra alguém passar por cima e sim dentro do peito,batendo,como foi feito pra ser.Eu preciso de muitas coisas.De sono de perspectiva de futuro.De olhar na janela e ver além da chuva.Saber que o sol está lá atrás de tudo isso ainda.


*como tem sido dificil
*mãe te amo

sexta-feira, março 04, 2011

morte.

Eu sou a gota de sangue no mar.Tubarões (o medo.o cansaço.a falta de motivos.a inércia) me devoram calmamente como num banquete fino de degustações.Sinto cada pedaço meu indo embora cada sonho meu indo embora cada coisa que um dia foi minha sendo mastigada e engolida pra nunca mais ser o que era.Meu corpo deformado, luta como passarinho implume, tentando voar ainda que castigado por tanta falta de vontade, pelos dentes que rasgaram minha pele, por tudo enfim.
Levo meu próprio corpo para uma homenagem póstuma.Deito-me ao leito.Passo perfume.E rezo em nome da minha própria alma.Da minha própria morte.

quarta-feira, março 02, 2011

Todo dia a este horário provavelmente farei uma postagem.Preciso escrever e pra mim é tão natural quanto acordar ou ir tomar banho que acho que escreveria muito mais se eu não deixasse as idéias fugirem.


Tuas mãos como cinturões de estrelas ornam minha cintura.Firme.Sob um pano azul há mais do que um céu a ser visto.Pensar a dois é como criar uma nova dimensão.Sinto uma nova galáxia surgindo cada vez que penso em tudo que poderíamos ser.E o que você ja é em mim.
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Durmo tanto que ás vezes só acordo dentro de mim.Ouço uma voz ao longe,sinto o cheiro do meu sobrinho movo as mãos para organizar e parece que não acordei.Ainda estou esperando o dia que ainda vou acontecer aqui do lado fora.Viver aqui, sentir algum prazer com o calor do sol, e não ver a noite chegar como algo que fosse previsível.Esse dia não irá acontecer de novo.E eu perdi mais uma chance de ser um verão anunciado por onde eu vou.As vezes a raiva por tudo estar tão automático quase acontece.Não me conformo de não ser eu mesma.